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/Porto, Alfândega, Praça XV

A história da cidade do Rio de Janeiro começa pelo seu porto, um porto seguro dentro de uma baía de águas calmas, estratégico na conexão da Europa com o Novo Mundo e na sua expansão marítima ao oriente. Pois, apesar dos seus 7.367 Km de extensão (mais 9.000 Km se consideradas suas reentrâncias), o litoral do Brasil, banhado pelo oceano Atlântico, não oferecia muitas possibilidades de abrigo para embarcações
de grande porte.

 

Na primeira fase do período colonial, entre os séculos XVI e XVII, a extração canavieira foi a principal atividade da região do Rio de Janeiro, seguida do café entre os séculos XVIII e XIX. Mas foi com a descoberta do ouro e pedras das Minas Gerais, entre os séculos XVII e XVIII, que o Rio passa a desempenhar um papel, portuário e comercial, de fato importante para a colônia. Por ele que se escoava ouro e diamante, e entravam escravos
e produtos manufaturados.

 

Mas o porto do Rio são muitos portos, cais, ancoradouros e trapiches, estaleiros e docas, em vários pontos da Baía da Guanabara: a Praia do Peixe (atual Praça XV); o Cais do Valongo, depois Cais da Imperatriz; o Cais de Brás de Pina, depois Cais dos Mineiros (atual zona da Leopoldina); o embarcadouro do Largo do Paço e o Cais Pharoux (também na Praça XV); a Ilha das Cobras, que passou a abrigar o Arsenal de Marinha; as Docas do Caju, o Ancoradouro do Mercado, a Praça do Mercado (depois Alfândega), a moderna Avenida do Cais do Porto e seus armazéns (no contexto das obras de Pereira Passos), e o contemporâneo Porto Maravilha. 

 

Fridman e Ferreira (1996) chamam a atenção para uma tendência à especialização destes diversos locais. Inicialmente, os navios atracavam na Ilha das Cobras, onde desembarcavam passageiros, bagagens e mercadorias que eram transportados para o cais da Praça do Carmo. Posteriormente, o principal atracador, para viajantes abastados, esteve localizado em frente ao Largo do Paço. Na Prainha (no sopé do Morro da Conceição, hoje Praça Mauá) descarregava-se gêneros alimentícios, madeira e couro oriundos do interior, além de produtos manufaturados europeus. O Valongo foi o principal local de desembarque e comércio de escravizados africanos até 1831. E nas praias do Mercado, dos Mineiros, dos Peixes, de D. Manuel (todas na região da Praça XV) e Formosa (Santo Cristo), havia pontos de ancoragem e instalações para reparo naval. 

Do ponto de vista geográfico, a região sofreu aterros e obras, mudou seu traçado. Do ponto de vista econômico, diversificou mercadorias, negócios e fluxos comerciais. Do ponto de vista histórico, sobrepôs camadas que algumas vezes quiseram esconder vestígios de um passado pouco honroso. Mas, acima de tudo, o porto é um lugar simbólico, que congrega cultura e tradições de gente que nele, ou a partir dele, se reuniu.

Imagina-se que em toda as cidades haja um lugar central, onde pulsam encontros, celebrações e negócios. (...). No entanto, quando imaginamos as cidades que têm um porto, deixamos de lado o verbo ter e logo empregamos o verbo ser. A cidade é portuária... A existência de um porto exprime de tal maneira o modo de ser de uma cidade que simplesmente não podemos separar as suas biografias. Sim, porque a cidade e o porto são como personagens a quem, vez por outra, atribuímos qualidades humanas (Turazzi, 2016, p.11). 

 

Hoje, o que chamamos de Região Portuária do Rio compreende parte dos bairros da Saúde, Gamboa, Santo Cristo e Caju, e vários territórios com conexões entre si, como a Pequena África, o Cais do Valongo, o Largo da Prainha (Saúde), o Jardim Suspenso do Valongo, a Pedra do Sal, o Morro da Providência, o Morro da Conceição, a Praça Mauá, a Orla Conde, e a Praça XV. É um local que guarda particularidades de sua formação histórica, mas também desdobramentos de seus usos contemporâneos.

 

Com a vinda da Corte portuguesa para o Brasil, intensifica-se o tráfego portuário da cidade. Em 1808, aportaram 765 navios portugueses e 90 de outras nacionalidades – principalmente oriundos da Inglaterra (estima-se, inclusive, que os ingleses tenham aberto cem firmas na cidade neste mesmo ano). O movimento crescia ano a ano, tendo 4.234 estrangeiros –além de seus familiares – fixados residência na cidade entre 1808 e 1822; e, só o ano de 1821, registrado 1.655 embarcações aportadas (Tostes, 2009).

 

A região da Praça XV, então Largo do Paço, torna-se o principal centro comercial e de poder da cidade, e é a partir dela que o traçado urbano vai crescer, em direção ao Campo de Santana. 

Contudo, desde o século XVII, quando a população crescente da cidade desce o morro do Castelo, já exista este terreiro junto à várzea, delimitado por um convento e duas igrejas, que se prolongava até o morro de São Bento. E também um traçado urbano muito simples, delineado pelas ruas da Misericórdia e Direita.

 

 

 

Referências

 

FRIDMAN, Fania; FERREIRA, Mário Sérgio Natal. Os portos do Rio de Janeiro Colonial. In: Encuentro de Geógrafos de América Latina, 6, 1997, Buenos Aires. Actas de trabajos 6º Encuentro de Geógrafos de America Latina. Buenos Aires: Universidad de Buenos Aires, 1997. v. 1. Disponível em: https://goo.gl/j4pFvU. Acesso em: 16 julho de 2021.

 

TOSTES, Vera Lúcia Bottrel. O Rio de Janeiro no tempo de D. João VI. In AMARAL, Sonia Guarita do (Org.). O Brasil como império. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009.

 

TURAZZI, Maria Inez. Rio, um porto entre tempos: modos de ser, modos de conhecer. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2016.

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