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A rua dos Ourives,

hoje dividida em dois trechos: a rua Rodrigo Silva, entre a rua São José e a rua Sete de Setembro, e rua Miguel Couto, entre a rua do Ouvidor e o largo de Santa Rita) se destacou pela ourivesaria e a joalheria do Brasil-colônia, durante o governo Gomes Freire (1733-1763) e por conta desse tipo de negócio se transformou em local de grande valorização imobiliária, diferenciando-se nesse aspecto da rua da Quitanda. Brasil Gerson nota que o crescimento desse tipo de negócio foi resultado do Tratado de Methuen, assinado em 1703 por Portugal e Inglaterra. O documento forçou Portugal a cobrir os déficits da balança comercial inglesa e, para saldar as dívidas, a metrópole usou boa parte do ouro e dos diamantes advindos de Minas Gerais. As riquezas que não eram utilizadas para esse fim eram enviadas para a corte. E o fisco era bastante rigoroso no que se referia à proteção dos bens pertencentes ao rei. Todos os ourives e joalheiros foram concentrados no Rio de Janeiro em 1742 para facilitar a fiscalização do setor. As lojas ficavam localizadas entre a igreja de Nossa Senhora do Parto e do morro da Conceição e tinham alta lucratividade. Contudo, temia-se que as atividades locais pudessem fazer concorrência à Metrópole. As joalherias foram fechadas, bem como as casas que produziam tecidos bordados a ouro. Essa situação só mudou com a chegada de d. João VI, quando os ourives passaram a viver um de seus melhores períodos. A rua onde esses comerciantes se fixaram se transformou em uma das mais destacadas da cidade. Na ocasião, a via ainda percorria o percurso desde a rua da Ajuda até o morro da Conceição e passou a ter maior número de estabelecimentos comerciais da cidade. Além de broches, pulseiras e diademas, também era possível encontrar lampadários e ostensórios de ouro e prata nas joalherias do local. Em 1821 o Clube Germânia foi fundado na rua dos Ourives por iniciativa dos primeiros alemães vindos para o Brasil. Também foi nesse local que os primeiros imigrantes judeus foram morar. Em meados do século XIX a região atingiu o ápice, concentrando 66 das 78 joalherias cariocas. 

 

No final do século XIX, a antiga Ourives foi dividida em duas frações. A partir de 1888, o primeiro trecho da velha via, localizado entre a São José e a Assembleia, teve seu nome alterado em homenagem ao ministro da Agricultura do Gabinete da Lei Áurea: Rodrigo Silva. A segunda parte, situada entre a Ouvidor e a Acre, manteve o título original até o ano de 1936, quando passou a se chamar Miguel Couto para saudar o ícone da medicina. A ligação do local com o campo da saúde foi estabelecida no princípio do oitocentismo, pois ele teve seus salões marcados pelas reuniões plenárias da Academia de Medicina e, mais tarde, pelos avanços científicos do Instituto Vacínico. Mas as atividades acadêmicas realizadas nesse logradouro não ficavam restritas aos altos estudos e à pesquisa, as aulas noturnas gratuitas oferecidas pela Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional eram bastante procuradas pelos cidadãos mais humildes em busca de instrução. Ademais, as empresas jornalísticas instaladas na região também contribuíam para a propagação da informação e do conhecimento. Em meio a elas destacavam-se os periódicos Boa Noite, de Vitor Silveira e Álvaro Lazary, O Cruzeiro, que publicou a obra “Iaiá Garcia” de Machado de Assis e O Jornal, fundado em 1919 pelo médico Renato Lopes. Esse último deu origem ao Diário da Noite, inaugurado oito anos depois por Assis Chateaubriand. Houve, portanto, uma mudança de perfil no trecho da Ourives, pois suas tradicionais joalherias foram pouco a pouco dando lugar a empresas e instituições de outros setores. 

Referências:

GERSON, 2013

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